Sisifo e a febre do facebook

11/12/2011 11:31

 

Não há dúvidas de que os programas de chatroom e as redes sociais estão ocupando a cada dia mais espaço na vida das pessoas. Antigamente existia (não sei se ainda existem) o MIRC e o IRC. Depois veio o ICQ, superado posteriormente pelo MSN. Então, supremo surgiu o Orkut, mas agora a febre é o facebook. Não esqueci o twitter, nem os blogs, micro blogs e Vlogs. São tantas novidades eletrônicas, que confundem qualquer mortal.

O que acho mais curioso é a necessidade de contarmos ao mundo, sobre tudo o que acontece conosco. Estes dias li, enrubescido, o facebook de uma amiga, que postou algo como: “Dia chuvoso. Meus pais viajaram. Meu namorado veio aqui para casa. Foi bom demais”. Ual. Devo confessar que passei o dia imaginando sobre como teria sido ‘bom demais’ (risos).

Na verdade o que gostaria de saber é o porquê das pessoas terem a necessidade de contar ao mundo, até mesmo sobre sua vida intima. Lógico que num tempo cujo programa de maior audiência televisiva é o BIG BROTHER, e ter gente que paga caro para ver meia dúzia de Q.I.s amebianos conviverem, natural que o modismo seja tornar a própria vida de domínio público. Minha amiga, a psicóloga Geany Andrade, apontou também como uma das causas deste boom virtual, a necessidade de demonstrar que se está incluído. Segundo ela, num mundo interligado pela virtualidade, o simples fato de sair com os amigos, precisa ser comunicado, para demonstrar que a pessoa freqüenta os lugares certos, o que lhe confere status e lhe dá mais aceitação.

Só fico desapontado quando alguém escreve que não suporta acordar cedo, nem gosta de estudar ou trabalhar e que acha chato qualquer assunto com um pouco mais de substancia cerebral. Imagine que sociedade estaremos construindo, se todos acordarmos depois do meio dia, não gostarmos nem de aprender, nem trabalhar e ainda bocejarmos quando um assunto importante nos é apresentado.

A vida adulta pressupõe responsabilidades. E isso não é ruim. Meu trabalho me diverte. Lógico que ganho dinheiro escrevendo. Mas não é só isso. Existe o prazer de ouvir as pessoas elogiarem meus textos ou meu programa de rádio. Isto só é possível pelo esforço que faço desde a infância em aprender. Quero destacar que a palavra esforço é empregada no sentido de dedicação, pois de maneira alguma é penoso descobrir coisas novas.

Como exemplo, estes dias coloquei lá no Google o nome Sisifo e descobrir que este personagem da mitologia grega, desafiou os deuses e como punição tem a tarefa de empurrar ladeira acima uma pedra de mármore extremamente pesada, sendo que todas as vezes que atinge o cume, a pedra cai e Sisifo é obrigado a começar novamente. De repente fiquei imaginando que quando as pessoas aceitam viver sem buscar superar as próprias limitações, são como Sisifo, e passam suas existências de maneira vazia, empurrando ladeira acima a simbólica pedra do esforço sem sentido. É uma lamentável perda de tempo.

Só para deixar claro, eu também tenho facebook, Orkut, MSN, ICQ, Twitter e Blog. São ferramentas indispensáveis ao meu ofício. Dão-me a oportunidade de mostrar alguns trabalhos, como este texto, que passariam despercebidos, se não fossem estas janelas. Então, minha reflexão é para que tenhamos a sabedoria de usar a tecnologia, sem deixar que a tecnologia nos use.

O escritor Richard Bach, no clássico Fernão Capelo Gaivota, demonstra que ficar apenas na praia, pegando peixe, torna a existência fútil e sem sentido. Importante é aprender a voar, mesmo que para isso tenhamos que criar a coragem de ir aonde os outros não ousariam, pois voando aprendemos que longe é um lugar que não existe.