Mau Exemplo na Aritmética no Brasil
Os vereadores podem até não ter desenvoltura em matéria legislativa, mas certamente são bons em aritmética. Tanto assim é que descobriram uma maneira simples e direta de interromper a trajetória ascendente do quociente eleitoral que atormenta suas vidas. Esta variável, como se sabe, é fruto da divisão dos votos válidos do pleito pelo número de vagas no Parlamento. Quanto mais elevado esse quociente, mais difícil é a ascensão às Câmaras, tanto das atuais excelências, quanto das futuras.
Pois bem, com a quase inexorável tendência dos votos válidos crescerem a cada eleição, só existe uma maneira de baixar o quociente eleitoral para facilitar a entrada nas Câmaras: aumentar o número de vagas legislativas, numa proporção maior do que o crescimento dos votos válidos.
E é isso que suas excelências estão fazendo pelo Brasil afora: inflando o divisor para neutralizar o dividendo e com isso diminuir o quociente. A operação infelizmente deixa resto, que sobra para o contribuinte.
A criatividade de suas excelências extrapola ainda o campo aritmético e desemboca no retórico. Argumentam os nobres edis que o aumento de efetivo justifica-se por possibilitar “maior representatividade para as populações municipais”, seja lá o que isso quer dizer. Alegam ainda que estão apenas cumprindo a Carta Magna, fazendo uma “readequação” devido ao crescimento populacional (a EC 58 não obriga a fazer esta “readequação”).
Por fim, suas excelências enfatizam que não haverá aumento de despesas para os municípios, “pois os repasses dos executivos para as Câmaras Municipais (duodécimos) continuarão dentro dos limites máximos permitidos pela emenda constitucional”. Ora, o caput do art. 29-A da Constituição, mantido pela EC 58, apenas determina que esses repasses não podem ultrapassar os limites fixados. Em nenhum lugar diz que os repasses devam ser feitos nos limites máximos.
Portanto, para as prefeituras que não estão transferindo para o legislativo os limites máximos (cerca de 40% delas),haverá aumento líquido e certo de despesas por conta da “readequação” na edilidade. E para aquelas que já repassam os tetos, a sangria nos cofres públicos será feita por meio de outras rubricas. Alguém duvida?
Por Maurício Costa Romão