Os distintos caminhos da globalização e da soberania nacional

21/04/2012 11:23

 

Vivemos em tempos em que globalização é a palavra de ordem. As relações econômicas, políticas, sociais e culturais, se fazem cada vez mais estreitas, pondo-nos todos na grande “aldeia global”, previsão feita há algum tempo pelo sociólogo Marshall McLuhan.

A verdade é que estamos sempre a procura de um novo padrão de vida. E assim é, desde o descobrimento, quando mesmo estando em um país de clima quente, o figurino usado era um seguindo os moldes europeus.

O torpor causado por esse glamour fictício que prega que tudo que é estrangeiro é melhor, parece ter se enraizado na mentalidade do brasileiro, dificultando sua capacidade de questionar alguns pontos.

Que preço estamos dispostos a pagar pela globalização?

Uma coisa é inquestionável, praticamente somos obrigados a entrar nessa dança, sob pena de ficarmos de fora da economia mundial.

A tal globalização nada mais é do que uma manobra para internacionalizar recursos naturais e essenciais para que o progresso tenha continuidade em terras desenvolvidas, que depois de anos a fio explorando, vêem seus recursos naturais se esgotando. Prova disso é que as reservas petrolíferas americanas, calculadas em 35 bilhões de barris para uma utilização de 15 milhões diários, só sustentariam o atual consumo pelo prazo estimado de seis anos e meio.

Perderemos nossa autodeterminação, em favor dos ditos interesses coletivos da humanidade. A necessidade capitalista de interligar o mundo abrindo novos mercados afetará em cheio não só nossas referências, mas também a soberania nacional. Ora em busca de armas de destruição em massa, ora em defesa dos direitos humanos ou do meio ambiente, as grandes potências mundiais seguem seu caminho metendo o bedelho no território alheio e desconfigurando nações. Maquiagens perfeitas quando o que se quer garantir, são interesses puramente econômicos.

Estamos sendo usurpados desde que fomos descobertos pelo velho mundo. E já em 1850, argumentando ter encontrado na Amazônia, “o paraíso das matérias-primas, no aguardo de raças superiores para uma conquista econômica e científica”, o Capitão de Fragata, Matthew Fontaine Maury, chefe do Serviço Hidrográfico da Marinha dos EUA, moveu uma campanha para que seu país anexasse a Amazônia ao seu território. Na época o que nos salvou foi a guerra que se instaurou por lá envolvendo a questão da escravidão, findada somente onze anos mais tarde.

Se não nos atentarmos de uma vez por todas, vamos perder território e patrimônio sob a acusação de sermos destruidores da fauna e da flora Amazônica, quando o alvo de toda cobiça é em verdade, a grande concentração de riquezas nela contidas.

Cinturões de rochas verdes que detectam a presença de ouro já foram encontrados nos quatro cantos da região. Ainda em 86, calculou-se que seria possível extrair mais de 15000 toneladas do raro metal dourado, o que corresponde a 32% das reservas do planeta, e que na época, tinha valor calculado em US$ 200 bilhões.

Tamanha riqueza fez o japonês abrir os olhos e oferecer em troca do ouro amazônico, durante o Governo do então presidente Fernando Collor de Mello, o pagamento de toda a dívida externa do país.

Outro exemplo que revela um pouco do seu potencial, são as chaminés vulcânicas que podem ser encontradas, mais especificamente no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), onde se encontrou nada mais, nada menos que o maior depósito de nióbio do mundo, em quantidade excedente às jazidas de Catalão (GO) e Araxá (MG), que antes detinham 95% da produção mundial.

Vale registrar que o nióbio, mais leve dos metais é um elemento que possui alta resistência à combustão, por isso é bastante apreciado pelas indústrias, na fabricação de alguns aços inoxidáveis, componentes de motores a jato e foguetes, soldas elétricas, aviões e usinas nucleares. O mundo precisa do nióbio, e ao contrário do resto do globo, a Amazônia o tem de sobra.

Isso explica por que tanta polêmica na demarcação da Reserva Raposa do Sol em que os índios reivindicavam uma limitação independente do território brasileiro. Quantos de nós ingenuamente não dissemos: que seja dado aos índios o que é de direito, a terra era deles antes da chegada dos portugueses...

Na verdade cara pálida, os “pele-vermelhas”, continuam trocando seus bens por “espelhos”, e como nunca quiseram apito, agora querem “Cherokee”! Na área reivindicada, encontra-se não só a maior reserva de diamante do mundo, mas também fortes indícios da existência de nióbio.

Finalmente depois de tanta exploração, o absurdo se instaura. Chegamos a era da hidropirataria. Navios-tanque atracam na foz do Rio Amazonas, que tem 320km de extensão e profundidade de 50m e auxiliados pela falta de fiscalização no local, reabastecem seus reservatórios com nossa água antes de deixar o território nacional.

Tudo isso nos faz refletir e chegarmos à triste conclusão de que 188 anos após termos declarado nossa independência de Portugal, continuamos sendo explorados e colonizados. Colonização esta a que nós mesmos nos submetemos não expandindo nosso patriotismo bienal, quando torcemos por nosso país em olimpíadas ou copas do mundo.

É preciso mais.

Temos que nos reconhecer enquanto nação, com idioma, costumes, religiões e território e preservar aquém da globalização que nos torna iguais, a soberania deste país continente que nos faz diferentemente privilegiados frente aos demais.

 

Claudia Cataldi é jornalista e presidente do Instituto Responsa Habilidade

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